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Vegetarianismo: uma escolha pessoal que cresce a cada dia

Pesquisa do IBOPE aponta que no Brasil há quase 30 milhões de vegetarianos


Por Agnes Lutterbach


Cada pessoa tem o direito de decidir aquilo que deseja comer, cada qual no seu tempo e sem imposições. E a conscientização alimentar ajuda muito quando a dieta vegetariana é escolhida. E não são somente vegetais dentro do cardápio. O vegetarianismo tem subdivisões: ovolactovegetarianos, lactovegetarianos, crudívoros, frugívoros e veganos. Destes, o mais comum são os que só deixam de comer carne, frango e peixe, mas permanecem com leite, ovo e seus derivados, os ovolactovegetarianos, comumente chamados de vegetarianos.


De acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) o consumo de frutas, vegetais e cereais integrais chega a ser até quatro vezes maior em vegetarianos do que em onívoros, o que traz benefícios para a saúde: prevenção de doenças cardiovasculares, cânceres, diabetes, hipertensão, entre outras, assim aumentando a longevidade.



“Em 2021 completo 30 anos de vegetarianismo”


O administrador de empresas Frabrizio Magliano, de 47 anos tornou-se vegetariano ainda na adolescência


“Virei vegetariano aos 18 anos, gostava de alimentação, de biologia e gostava muito de ler sobre o assunto. Uma vizinha falou sobre o vegetarianismo comigo, após conhecer alguns vegetarianos aqui em Nova Friburgo e participar de algumas palestras de indianos que vieram morar na cidade, aquilo despertou meu interesse e fez com que eu pesquisasse sobre o assunto. Na época não havia tanta informação e divulgação como temos hoje, então disseram que eu precisava fazer uma adaptação, fiquei uma semana comendo só frango até abandonar a carne, o frango e o peixe, desde então nunca mais comi”, conta.

A decisão por ser vegetariano foi em prol dos animais e da própria saúde e as mudanças foram perceptíveis


“Fiquei mais leve, minha alimentação mudou, a digestão melhorou, bem mais tranquilo, sem tanta ingestão de toxinas. Saber que estou fazendo a minha parte em relação aos animais e ao planeta me trouxe muita paz”, afirma.

Para o friburguense, os animais são seres especiais que merecem viver


“Não devemos mata-los para satisfazer um prazer nosso, porque não temos necessidade da carne para sobreviver. Os animais têm o mesmo direito de vida. Por que ter um como pet e comer outro? Não consigo entender essa mentalidade, essa cultura”, diz.

Ser vegetariano é uma questão consigo mesmo, não é para os outros. É uma decisão de respeitar a natureza, estar em harmonia com ela e fazer aquilo que você acha certo


“Ser vegetariano não é impossível, eu virei a chave, decidi e não tenho nenhuma vontade de voltar a comer. Pratico atividade física, pedalo e sempre tive um desempenho ótimo. Tenho uma vida normal e evoluí muito. Aprendi que a escolha precisa ser de cada um, não quis transformar o mundo, fazê-lo parar de comer carne”, destaca.


Só o vegetarianismo não era o bastante


A advogada Marcela Vila Nova, de 34 anos, optou pelo vegetarianismo em 2018, mas o pensamento era que poderia fazer mais. Confira abaixo, a entrevista que a soteropolitana deu para a Revista Entre Asanas



Entre Asanas: Como decidiu ser vegetariana, a transição para o veganismo e por que decidiu fazê-la?


Confesso que a ideia inicial de aderir ao vegetarianismo foi por um motivo egoísta, o foco foi apenas na saúde. Sempre gostei de ler sobre nutrologia, e já tinha a consciência de que carne era um alimento nocivo. Certo dia, em 2018, disse a minha mãe: “Vamos tirar a carne do prato?” Na mesma hora ela disse: “vamos!”.


Começamos deixando a carne vermelha. Depois evoluímos para a retirada do frango, e por último o camarão e demais frutos do mar. À medida que ia mergulhando neste universo do vegetarianismo, começava a notar que ainda era pouco. Abandonar a carne apenas não bastava. Era preciso deixar de consumir também quaisquer produtos de origem animal. E a partir do interesse no tema, comecei a entender também que os motivos precisavam ir muito além dos benefícios à saúde, mas deveriam ser principalmente pelos animais, os quais não vivem com o propósito de sacrificar suas vidas para nos servir, e tampouco o meio ambiente deve ser completamente destruído para a satisfação do nosso paladar.


A partir de toda essa compreensão o vegetarianismo tornou-se apenas um trampolim para o veganismo. Após um ano de estudo e muitos testes de receitas, quando li um livro chamado “Garfos em vez de facas”, de Gene Stone, tive o impulso que necessitava para abandonar de vez o leite do café e o bolo que ainda consumia nas cafeterias. Foi um momento libertador.



Entre Asanas: Quais foram as primeiras mudanças que você percebeu: físicas, mentais, espirituais e em relação ao universo?


A mudança que notei mais rapidamente foi a perda de peso. Nunca tive sobrepeso, mas ainda assim havia alguns quilos em excesso que foram naturalmente perdidos com os novos hábitos. Mas outros benefícios também surgiram. Sempre tive um ciclo menstrual muito irregular. Acreditava que era uma característica pessoal, mas para minha surpresa, já nos primeiros meses do vegetarianismo o ciclo se tornou pontual. As dores nas articulações dos dedos que apareciam em tempos de stress sumiram, e o intestino que volta e meia desregulava, passou a funcionar perfeitamente. Minha mãe, que me acompanhou nesta jornada em total sincronia, percebeu uma mudança ainda maior. Ela tem um nódulo benigno na tireoide que gradativamente reduziu em cerca de 80%. O intestino dela, que não funcionava naturalmente há mais de 30 anos, passou a trabalhar sem o auxílio de laxantes. Foi uma grata surpresa.



Do ponto de vista mental, espiritual e em relação ao universo, creio que estes três pontos estão muito interligados. O amor e a compaixão que sentia pelos animais deixou de ser um ponto contraditório, pois não havia mais a dualidade entre amá-los e comê-los. Minha mente passou a compreender que todos os seres que habitam na Terra estão aqui para os seus próprios propósitos, e que para esses seres tão adoráveis e sencientes, suas vidas possuem tanta importância quanto a minha tem para mim. Aprendi certa vez com uma grande sábia, uma frase que pode ser aplicada em muitos aspectos da vida, inclusive neste: “viva e deixe viver”.


Minha visão também se ampliou no sentido de compreender que possuímos, enquanto dotados do fôlego da vida, a responsabilidade sobre duas casas, que são nosso corpo e o nosso planeta, e nascemos com a dádiva e a missão de agir de modo responsável perante ambos. É uma tarefa difícil muitas vezes, mas vivemos uma caminhada de eterno aprendizado.


E também não poderia deixar de citar uma notória transformação psíquica e espiritual: me tornei uma pessoa mais tranquila. Sempre tive o “pavio curto”, e facilmente reagia mal a provocações, por exemplo. Percebi que após abandonar o consumo de carne, que é um alimento derivado de tanta dor, sofrimento e relação de luta e fuga, o meu lado de temperamento mais sanguíneo reduziu significativamente, e acredito que isto tenha relação com o fato de que meu corpo entendeu que eu não precisava mais ter um comportamento predatório. Não existia mais adrenalina em meu prato. Minhas células não recebem mais informações desta natureza.



Entre Asanas: Qual a importância de mudar os hábitos alimentares? Como o veganismo contribui?


A importância desta mudança possui três vertentes igualmente importantes, que são a saúde, o respeito aos animais, e ao meio ambiente. O veganismo, como um pensamento que vai além da dieta do vegetarianismo estrito, que é apenas uma dieta de restrição de alimentos de origem animal, ele te ajuda a pensar também nos demais aspectos que vão além da saúde, embora este tema seja de extrema relevância. Nossa sociedade está adoecendo a passos galopantes, e a medicina ensinada em nossas faculdades pouco instruem aos nossos médicos as noções primárias da nutrição como elemento de prevenção e cura, e muito menos sobre os efeitos deletérios da carne, dos ovos e do leite.



Entre Asanas: Seu autoconhecimento é ajudado pela forma que você age, respeitando os animais?


Depois que aprendi a respeitar um pouco mais os animais, através do veganismo, naturalmente aprendi a respeitar a fisiologia natural do ser humano – que é herbívora – , e assim consegui passar a ouvir melhor o meu corpo e suas necessidades. Os sentidos em relação ao que o seu corpo necessita se aguçam. Há uma conexão mais íntima entre mente e corpo.





Vegetarianismo e Yoga: a expansão da essência


A terapeuta holística e professora de yoga Katia Erbiste é vegetariana desde muito pequena, não gostava e também não metabolizava bem as carnes. Ela morava em um sítio e os avós criavam animais para o abate e isso causava dor e sofrimento desde criança


“Medito desde os 12 anos e as mudanças que o vegetarianismo trouxe sempre foram muito notáveis; na minha estrutura, na minha energia, na mente e na minha reconexão”, afirma.

A friburguense desenvolve seu lado espiritual desde a infância e o vegetarianismo contribui nesse processo


“Eu já tinha uma abertura mediúnica grande e intensificou após os 14 anos quando eu comecei a fazer as meditações do yoga seguidas do Kryia Yoga, de Paramahansa Yogananda. O processo de verticalização tem uma contribuição imensa do vegetarianismo porque ele costuma mudar o gradiente energético, quando consumimos alimentos mais leves, nós sutilizamos a nossa conexão”, explica.

A escolha pelo vegetarianismo precisa ser pessoal, vir de si próprio, sem influência ou “obrigação” de ninguém. Cada um traça seu caminho e escolhe aquilo que deseja fazer. Quando a pessoa enxerga que essa mudança traz benefícios, ela vai querer mais, então buscará informação, receitas diferentes e aprendizado.


De acordo com a professora, yoga e vegetarianismo estão relacionados


“Os iogues já diziam que o consumo exagerado de alimentos tóxicos, carregados de informações, nada naturais, realmente inibe a atividade mental para meditação, para uma melhor percepção do corpo não ácido, o corpo alcalino muda a célula e isso muda toda a nossa bioquímica e hormonalmente também. Isso faz com que a gente abra mais as nossas conexões, falando aí das glândulas da cabeça, quando a gente começa a ter maior alegria, satisfação, gratidão, todas as emoções vêm somar ao que a mente mudando essa programação proporciona, trazendo coisas melhores para nossa vida”, finaliza.




Nutricionista enxerga o vegetarianismo como uma escolha saudável


A nutricionista Grazielli de Melo Santos atende vegetarianos, veganos e esportistas e sabe o quão importante é buscar o equilíbrio nutricional. Acredita que ser vegetariano é uma escolha saudável, pois uma dieta baseada em alimentos in natura traz inúmeros benefícios, tanto para a saúde física, quanto para a mental


“Uma dieta vegetariana além de proporcionar mudanças bioquímicas como melhora nos níveis de gordura corporal, redução do risco de diabetes, redução de risco de infarto e hipertensão há outros benefícios que contribuem para uma boa manutenção de saúde e longevidade como, por exemplo, melhora na disposição (ânimo), hábitos alimentares mais saudáveis, maior qualidade de vida e alguns estudos já apontam que uma dieta vegetariana pode ser benéfica para a saúde mental auxiliando no tratamento contra depressão e ansiedade”, mostra.

Uma dúvida que surge para muitas pessoas é em relação à proteína, ela pode ser divida em dois tipos: animal e vegetal. A primeira é encontrada em carnes, leite, ovos e derivados; e a segunda é encontrada em leguminosas como o feijão, grãos (lentilha, ervilha, grão de bico), verduras (espinafre, couve, brócolis) e legumes (abobrinha, cenoura, batata). As que possuem uma maior quantidade do nutriente disponível são: lentilha, grão-de-bico, feijões, ervilha, tofu (queijo de soja), soja, castanha do

Brasil, noz e amendoim; essas três últimas oleaginosas, sendo seu consumo recomendado com cautela e sem exageros, devido às altas concentrações de lipídeos.


A variedade no cardápio vegetariano é primordial, pois para conseguir diversos nutrientes é preciso consumir alimentos diferentes; a variedade no cardápio consegue garantir as vitaminas necessárias para uma boa manutenção da saúde. É possível também não se restringir, comer aquela pizza ou fast food que a maioria gosta.


O nutricionista vegetariano pode contribuir para a mudança e criação de novos hábitos alimentares por ter como principal aliado a experiência de vida em conjunto com o conhecimento técnico adquirido na graduação ou em cursos variados. Possuir essa experiência permite ao nutricionista considerar as dificuldades no processo de transição e ajudar o paciente a superá-las com mais facilidade. E por que consulta-lo? Grazielli de Melos Santos explica


“O profissional de nutrição não deve ser consultado apenas em situações específicas como, por exemplo, na procura do emagrecimento, ganho de massa muscular (hipertrofia), controle de doenças crônicas, mas principalmente para dar autonomia às pessoas diante a alimentação e prevenir o surgimento de doenças. O trabalho de um nutricionista não se resume apenas em receitar dietas, a dieta ou plano alimentar é uma ferramenta, mas a orientação do profissional é o que permite que o paciente tenha autonomia e poder de escolha ao se alimentar”, conclui.


Já dizia Albert Einstein “Nada beneficiará tanto a saúde humana e aumentará as chances de sobrevivência da vida na terra quanto a evolução para uma dieta vegetariana.”



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