Mais Bhagavad Gita: autenticidade é um antídoto para o sofrimento moderno

Entre o vasto acervo de ensinamentos da Bhagavad Gita, alguns versos do capítulo 16 oferecem uma reflexão direta e profundamente alinhada aos debates contemporâneos sobre saúde mental. A obra sustenta que muitas das “não-conformidades existenciais” — aqueles incômodos sutis que se acumulam até virar sofrimento — surgem quando o indivíduo não vive de acordo com sua Natureza Autêntica. Em outras palavras, quando você ocupa seu espaço-tempo com situações, atividades ou papéis que não lhe pertencem.

Nesse sentido, os versos 47, 48 e 49 são categóricos ao afirmar:

BG16.47 É melhor alguém dedicar-se à sua própria ocupação, mesmo que a execute imperfeitamente, do que aceitar a ocupação alheia, executando-a com perfeição. Os deveres prescritos conforme a natureza da pessoa nunca são afetados por reações pecaminosas .

BG16.48 Todo empenho é mesclado com algum defeito, assim como o fogo é coberto pela fumaça. Por isso, ninguém deve abandonar o trabalho nascido de sua natureza.., mesmo que esse trabalho seja cheio de defeitos.

BG16.49 Quem é autocontrolado e desapegado, e não se interessa por nenhum prazer material, pode obter através da prática de renúncia, a fase perfeita e mais elevada, que é estar livre de reação .

A natureza autêntica como eixo do equilíbrio emocional

O conceito central é claro: cada pessoa “é para o que é”, e a harmonia da vida se fundamenta nesse alinhamento original. Existe uma tendência natural — quase um sistema operacional interno — que orienta o propósito, a dignidade e o modo como pensamentos e comportamentos fluem no espaço-tempo.

Quando o indivíduo age conforme esses parâmetros inatos, a experiência de existir torna-se mais leve, coerente e estável. Mas, ao contrário, quando se condiciona a caminhos que não lhe pertencem, instala-se um ciclo sutil de sofrimento: repetições mentais que distorcem a identidade real, embotam a clareza e desorganizam a fluência interna.

A Bhagavad Gita, portanto, propõe um diagnóstico simples e definitivo — e um chamado igualmente direto: ajuste-se. Porque viver a própria natureza não é apenas um ato espiritual; é uma necessidade psíquica fundamental.