MOKSHA: mas é pra se libertar do quê mesmo?
- Redação Entre Asanas
- 20 de abr.
- 2 min de leitura

Em meio ao vocabulário exótico que orbita o universo do Yoga, poucas palavras carregam tamanha reverência — e tão pouca compreensão — quanto Moksha. Repetida quase com solenidade por professores, instrutores e entusiastas, costuma ser apresentada de forma vaga como “libertação”, quase sempre envolta por uma névoa de misticismo. E, diante da pompa, o aluno silencia, acena com a cabeça, e volta à sequência de posturas sem entender o real alcance do que se diz.
Mas Moksha não é apenas mais uma palavra bonita para enfeitar discursos sobre "espiritualidade". Trata-se, no sistema do Yoga, do ápice da jornada humana, o objetivo maior de uma prática que não se resume a alongamentos em tapetes coloridos. Moksha é libertação — sim — mas libertação de quê, exatamente? Essa é a pergunta que merece ser feita com coragem e autenticidade por qualquer pessoa comprometida com autoconhecimento real.
A ilusão do automático: libertar-se das correntes invisíveis
No cotidiano acelerado da modernidade, operamos grande parte do tempo sob o domínio de padrões automáticos. Reações previsíveis, hábitos mentais compulsivos, interpretações guiadas por medo ou convenções sociais. Essa dinâmica mental repetitiva — modus perpetuus — forma os grilhões invisíveis que aprisionam a consciência.
Moksha, nesse contexto, não é uma fuga da realidade, mas um reencontro com ela em sua essência mais pura. Trata-se da emancipação da mente reativa, da libertação das identificações ilusórias com papéis, desejos e condicionamentos. É a capacidade de observar os próprios pensamentos sem se confundir com eles. De agir com discernimento, e não por impulso. De sustentar o intento, mesmo diante das distrações do mundo.
Essa libertação não acontece de forma repentina. Ela é construída lentamente, pelas “pequenas decisões do dia a dia”: aquele momento em que o praticante opta pela escuta em vez do julgamento; em que controla o gesto, alinha a palavra, e preserva o silêncio interior diante do caos externo. Cada uma dessas escolhas é um ato de Moksha — a conquista da liberdade interna que nenhuma circunstância externa pode conceder.

Da teoria à vivência: liberdade de experimentar
No cerne da prática do Yoga, Moksha é mais do que um conceito filosófico: é uma experiência vivencial e transformadora. Durante o recolhimento meditativo, o praticante se abstrai dos ruídos cognitivos, e, na experimentação consciente, saboreia o que os antigos textos chamavam de Samadhi — um estado de isolamento cognitivo, onde emergem a intuição e o coração como únicos guias.
Essa não é uma experiência reservada a monges nas cavernas do Himalaia. Ela se revela, gradualmente, na vida da pessoa comum: na leveza dos gestos, na vibração genuína da fala, na serenidade com que se encara os desafios diários. Moksha não é um estado inatingível, mas uma condição cultivável, que exige disciplina, e, sobretudo, desapego das verdades absolutas que criamos sobre nós mesmos.
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