Ásana: O que significa POSTURA?
- Redação Entre Asanas
- 23 de abr.
- 2 min de leitura

Antes de entrarmos no universo do Yoga, a palavra postura evocava algo bem direto: um comando de atenção, um chamado à compostura ou um apelo à dignidade frente às adversidades. Era comum ouvir expressões como “mantenha a postura” ou “não perca a compostura” — geralmente em contextos nos quais se esperava de alguém um posicionamento intencional diante de desafios, mantendo firmeza física, emocional e moral. Não por acaso, esses significados tradicionais já antecipam muito do que, de fato, o Yoga compreende como āsana, o termo original que muitas vezes se traduz apenas como “postura”.
No entanto, a forma como o termo postura é aplicado dentro do mundo contemporâneo do Yoga tem se desviado consideravelmente de seu sentido mais profundo. Limitada ao âmbito físico, āsana tornou-se sinônimo de pose — muitas vezes coreografada para as redes sociais, com ênfase na estética em detrimento da essência. Mas se voltarmos à fonte clássica — o Yoga Sutra de Patañjali — veremos que postura tem um significado muito mais amplo, sutil e poderoso.

POSTURA é posicionamento intencional frente à vida
Quando Patañjali apresenta o conceito de āsana, ele o faz com precisão cirúrgica: após os yamas e niyamas — que são condutas éticas e disciplinares — surge o convite à postura como enfrentamento do samsāra, ou seja, como estruturação interna frente ao caos da existência. Não se trata, portanto, de adotar uma forma corporal idealizada, mas de encontrar uma base sólida, consciente e funcional a partir da qual o praticante possa atuar com clareza, mesmo diante de adversidades externas e turbulências internas.
Assim como nas situações cotidianas em que alguém pede “postura” para que não sejamos engolidos pelas emoções ou pela pressão social, āsana é o exercício de um posicionamento que atravessa o corpo, organiza a mente e direciona o comportamento. Não é uma pose que se faz. É uma estrutura que se sustenta. No tapete do Yoga, essa postura nos prepara para conter as atividades mentais e direcionar a energia vital com precisão. Fora do tapete, ela nos ensina como não ceder ao automatismo e ao condicionamento.

A percepção da presença: a experiência de se impor
Durante a prática de yogāsana, quando há silêncio, isolamento e refinamento da atenção, acontece algo que vai além do físico: o praticante começa a se desidentificar das caracterizações habituais — rótulos, memórias, autoimagens. Surge então uma percepção ampliada de si mesmo, como se a consciência observasse a estrutura do corpo de dentro para fora, em tempo real.
Nesse estado de atenção sutil, é possível perceber as camadas subconscientes atuando — o corpo biológico, os impulsos químicos, as reações condicionadas. E nesse mesmo instante, algo se alinha. Uma vibração distinta percorre o ser, conectando corpo, mente e energia vital num único movimento, harmônico e silencioso. É nesse momento que a verdadeira postura acontece: quando já não há esforço nem espectador, apenas presença.
Postura, portanto é uma condição conquistada, e não ensinada. Ela é o ponto em que o praticante, por instantes, manifesta uma integração plena com o aqui-agora, onde toda ação se torna expressão da intenção consciente.

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