Embora a área seja majoritariamente masculina, as mulheres vêm galgando espaço como é o caso da startup Radarfit
Por Mônica Kikuti
A área de tecnologia é um celeiro de oportunidades e um dos setores que mais crescem, não apenas no Brasil como no mundo. Porém, as diferenças de gênero nessa força laboral é grande. Segundo dados de 2020 da “Gender Segregation in Occupations”, disponibilizada pela ONU, apenas 3 de cada 10 pessoas que trabalham em tecnologia e ciência da computação são mulheres.
Em se tratando de Brasil, uma pesquisa do Instituto Thoughtworks aponta que as mulheres representam 31,7% da força de trabalho no segmento de TI no País.
A representatividade feminina pode melhorar e exemplos como a startup brasileira Radarfit, chega como um incentivo para a mulherada enveredar também nessa seara.
Comandada por Jade Utsch, Jennifer de Faria e Tatiany Ribeiro, três jovens mineiras de Belo Horizonte, a RadarFit desenvolveu um aplicativo que estimula hábitos saudáveis por meio de games. A empresa, que surgiu em 2017, cresceu 1.600% em 2020 e a previsão é ainda maior para esse ano.
COMO FUNCIONA
O game transforma a saúde e o corpo do usuário por meio de missões saudáveis personalizadas diariamente com uso de Inteligência Artificial. No aplicativo, ao realizar os desafios, os usuários conquistam medalhas e acumulam moedas para trocar por prêmios reais e também participam de rankings e torneios.
Uma das fundadoras da Radarfit, Tatiany Ribeiro, é praticante de yoga e adianta que haverá atualização no aplicativo com esse recurso e também meditação.
Ela, assim como as demais fundadoras, é usuária assídua do produto que criou.
“Uso o aplicativo para intercalar os treinos de aparelho com treinos de calistenia (método de exercícios que usa o peso do próprio corpo)”, conta Tatiany.
O app está disponível para sistemas Android e iOS. Opera em 15 países e em três idiomas.
DESAFIOS DE “TECH WOMAN”
Além da inserção num mercado masculino, as mulheres precisam vencer, diariamente, também o sexismo.
Amanda Macedo Mussio, 29, estudou sistemas para internet e hoje é head of mobile numa multinacional. Ainda na faculdade, numa sala de 90 alunos onde somente 6 eram mulheres, lidava com o comportamento preconceituoso até dos professores.
“Muitas vezes achavam que quando a gente tinha dificuldade para aprender alguma coisa, era pelo fato de ser mulher”, revela ela, que começou a se interessar por tecnologia com apenas 11 anos, fazendo blogs e produzindo seus próprios gifs.
No meio corporativo, que é bastante competitivo, ela conta que é preciso se impor o tempo todo e não demonstrar vulnerabilidades para conseguir respeito como profissional.
“Por essa área ser predominantemente masculina, já se espera menos da mulher. Costumo fazer a seguinte alusão: é como se você tivesse uma camiseta de banda e só pudesse usá-la se comprovasse saber tudo sobre ela. É exatamente assim que eu me sinto no mercado de tecnologia, assim como muitas outras mulheres. Você sempre precisa saber mais e é mais cobrada.”
Amanda relembra que a área de tecnologia tem muitas mulheres que fizeram diferença, porém, quase nunca são lembradas.
“Historicamente tivemos muitas mulheres protagonizando a área. Hoje em dia, porém, dificilmente você encontrará pessoas que já ouviram falar em Ada Lovelace, conhecida também como Ada Byron ou Lady Lovelace (a criadora do primeiro algoritmo a ser processado em uma máquina). No entanto, se você perguntar de Bill Gates ou Steve Jobs todos sabem quem é”, argumenta.
Apaixonada pelo segmento, ela não esmorece e deixa um recado para aquelas que desejam entrar para essa área, que é tão promissora e tão desafiadora ao mesmo tempo.
“O primeiro conselho é ter muita resiliência. O mercado de trabalho está mudando e as mulheres de hoje estão construindo uma mudança muito grande para as do futuro. O segundo é estudar e não duvidar da sua capacidade. Faça-se conhecida, pergunte tudo o que puder e, por último, mesmo quando não quiserem te dar voz, fale mesmo assim!”, recomenda.
ESTUDE DE GRAÇA
Embora haja desafios, como toda profissão e área, as mulheres devem continuar buscando espaço, respeito e equidade de gênero.
A Laboratória, organização social que fomenta a participação feminina no mercado de tecnologia, oferece formação gratuita para mulheres. As alunas podem se iniciar profissionalmente nas carreiras de desenvolvedoras front-end e UX designers (designers de experiência do usuário).
A organização oferece um bootcamp (programa de ensino imersivo) de 6 meses, no qual as alunas aprendem aspectos técnicos (Javascript) e, de quebra, desenvolvem também suas habilidades socioemocionais.
Como contrapartida à gratuidade dos estudos, as alunas, depois que conseguirem um emprego na área, se comprometem a contribuir com a Laboratória para que outras mulheres continuem estudando também.
Surgida em 2014, em Lima, no Peru, possui escritórios em São Paulo, Santiago (Chile), Bogotá (Colômbia) e nas cidades mexicanas de Guadalajara e Cidade do México.
Suas iniciativas já graduaram mais de 2 mil mulheres, 83% dessas estudantes foram inseridas no mercado de trabalho e seus salários aumentaram quase 3 vezes. Saiba mais em https://www.laboratoria.la/br
SÉRIE DOCUMENTAL
Embora lançada em 2018, a série documental da Samsung Tech Girls, enfocando mulheres cientistas e gamers, é bem atual. Há dois episódios disponíveis na web e um making off. Basta procurar no Google e assistir.
Os episódios são curtinhos, em média 4 minutos de duração, e valem a pena por vermos o protagonismo feminino.
Estima-se que a América Latina precisará de mais de 1 milhão de desenvolvedores de softwares nos próximos três anos e você, mulher, pode fazer parte desse time!
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