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Você é o que come. E o que sente!

Pandemia expõe o impacto das emoções sobre o comportamento alimentar.


Por Vitória Isa Moura


Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), o Brasil lidera uma lista de 11 países com mais casos de ansiedade durante o período de enfrentamento a Covid-19. Esses 63% de brasileiros, apontam, em números, o que muita gente já suspeitava: o isolamento social pode afetar as pessoas. Mas, o que você talvez ainda não tenha percebido, é como têm andado o seu comportamento alimentar nesses últimos tempos.


Em março de 2020 o mundo inteiro viu a vida mudar repentinamente após a confirmação da pandemia do corona vírus. Do trabalho com eventos, sempre lotados, Marina Cantalogo passou para o isolamento social. Mas não estava sozinha, a ansiedade tornou-se uma companhia frequente. Com ela, vieram também a compulsão alimentar, insônia pertinente, falta de produtividade e irritabilidade. O que Marina ainda não imaginava, é que a causa para tudo isso estava além quarentena. Sua, agora antiga, rotina desregulada, tinha cultivado uma sementinha que àquela altura já dava frutos não tão bons.


"Eu comia muito fast food, almoçava em qualquer lugar e muitas vezes fora de hora. Não tinha horário de sono ou descanso, tampouco um tempo para mim".

O que comemos afeta a forma como nos sentimos, assim como o que sentimos afeta nossa maneira de comer. Como num baile bioquímico, se o que comemos nos oferece uma quantidade reduzida de nutrientes, o sistema nervoso pode querer adotar meios alternativos para desenvolver suas funções. Assim, eleva-se a probabilidade de enfrentar desordens mentais. A nutricionista Danielle Cambuí explica que um destes neurotransmissores é a serotonina, responsável pela sensação de bem estar e regulação do humor. É por isso que ao se sentir ansioso, muitas pessoas tentam descontar essa emoção na comida. Mas essa correlação pode ser perigosa.


"Aqui em casa, um dos efeitos da pandemia foi criarmos o hábito de buscar felicidade na comida. Se estávamos felizes, era motivo para prepararmos algo para comer. Mas se a gente recebia uma notícia mais angustiante ou sabíamos de algum conhecido que estava infectado, também íamos buscar apoio na comida", conta Marina.

A especialista em nutrição afirma que na maioria das vezes os alimentos escolhidos são aqueles considerados não saudáveis, e reavaliar os próprios hábitos alimentares pode te ajudar a identificar esse ciclo vicioso:


"Se você permanece com fome logo após uma refeição ou se mantém sempre ao alcance das mãos guloseimas e alimentos industrializados, precisa acender um sinal de alerta."




Cada vez mais, pesquisadores descobrem uma ligação entre o que consumimos diariamente e o surgimento ou diminuição, dos sintomas da ansiedade. Alimentos muito processados e cheios de açúcar, podem piorar as ocorrências, enquanto opções naturais tendem a diminuí-las. Portanto, aquela barra de chocolate que você considera a sua comfort food (comida conforto) e a quem recorre regularmente, está mais para vilã nessa história. E sem o tratamento adequado, a tendência é que esses episódios se tornem cada vez mais frequentes. A psicóloga Beatriz Neres aponta que esta circunstância gera consequências para a saúde mental do paciente, e que como uma "bola de neve rolando ladeira abaixo", a condição tende sempre a se agravar:


"A longo prazo, essa situação pode por consequência ampliar o sofrimento por uma não realização pessoal, por exemplo. Além da má alimentação gerar prejuízos à saúde pessoal".

As marcas de sua condição já eram evidentes quando Marina decidiu virar a chave e mudar de vida:


"Eu já estava um pouco acima do meu peso ideal e durante a quarentena ele continuou subindo, foi quando eu passei a enxergar todas as consequências daquilo que até então eu não via. Me sentia triste, indisposta e não estava nada satisfeita com a minha aparência. O meu corpo estava muito longe do que sempre foi e a minha saúde mental desregulada [...] Quando mudei meus hábitos pude observar que ao me sentir bem, escolhia melhor os alimentos e tinha mais disposição. Mas quando estava mal, buscava coisas mais fáceis, mais rápidas e que me dariam aquele prazer momentâneo. As consequências foram ficando facilmente perceptíveis e eu tinha quedas de desempenho, crises de enxaqueca. A ansiedade, insônia e compulsão alimentar também eram mais fortes nesses momentos".

Assim como aconteceu com Marina, o cenário de pandemia pode ser um gatilho para episódios de compulsão alimentar ou síndrome alimentar noturna. A nutricionista explica que isso acontece porque esses distúrbios estão geralmente associados a sentimentos, como tristeza, raiva, depressão, ansiedade, medo ou baixa autoestima, e que, em muitas das vezes, no momento em que a pessoa se submete a auto se sabotar, o faz de forma inconsciente gerando depois uma sensação de culpa.


Já para a psicóloga Beatriz, a partir dessa relação não é difícil conceber a existência da marca psíquica “fome gera desconforto, alimentação gera satisfação”, atribuindo a comida à função de solucionar problemas emocionais.





Vale ressaltar que um dos primeiros atos do ser humano ao nascer é se alimentar, mas a forma como o indivíduo encara os alimentos é quem dirá o quão saudável é essa relação. Perceber os sintomas da ansiedade e a sua influência sobre os hábitos alimentares requer a busca por ajuda profissional, a fim de encontrar novamente o equilíbrio físico, mental e espiritual.


Hoje, fazendo uma análise da Marina que vivenciou aqueles primeiros momentos de pandemia, tendo como companheiras a ansiedade e a compulsão alimentar, para a Marina de hoje, ela acredita que, com as mudanças dos hábitos, encontrou o equilíbrio e conquistou liberdade.


"Na busca por essa nova vida, eu percebi que queria me reeducar por completo e que seria na minha mente a primeira mudança. Eu precisava que ela fosse saudável, para que eu conseguisse parar de me boicotar. A saúde mental é responsável por todos os campos da nossa vida e reflete em tudo o que fazemos. Foi a meditação e os novos hábitos que me ajudaram nessa busca e autocuidado. Eu finalmente entendi que viver livre do estresse, da ansiedade e das compulsões, é qualidade de vida. Para isso, o primeiro passo é querer e o segundo é se cuidar".

A qualidade de vida a qual Marina se refere foi compartilhada com toda a família, de quem ela conseguiu também mudar os hábitos. E a mudança em si mesma não foi só interna, com a alimentação saudável, prática de atividades físicas e yoga, ela conseguiu eliminar 15 kg.


"Quando conheci a Yoga, ganhei também um momento só para mim. Era o meu momento. Eu, comigo mesma, fazendo algo que estava gostando e que tinha prazer em descobrir, me desafiar. Foi a yoga que me ajudou a ir para os outros exercícios com uma consistência muscular e respiração muito melhor. Adotei a prática para a vida!"

O caminho seguido por Marina é também indicado por Danielle. A nutricionista afirma que o equilíbrio do corpo está associado a uma boa alimentação, realização de atividade física e a espiritualidade. Para ela, o autoconhecimento requer aliados e a yoga tem um importante papel nessa contribuição.


E por falar em aliados, para te ajudar a não deixar de fora do seu carrinho alguns que são considerados poderosos no efetivo controle da ansiedade, montamos uma lista de alimentos indispensáveis para você garantir opções saudáveis na próxima ida ao supermercado, combinado?


A especialista em nutrição recomenda o consumo de alimentos que são fontes de ômega 3, magnésio, fibras, zinco, ferro, probióticos, além das vitaminas C, B1, B9 e B12. Então, pode colocar no cardápio as folhas verde escuras, abóbora, maçã, laranja, abacate, peixes, carnes e ovos. Oleaginosas como castanhas e nozes também entram nessa lista.


O autocuidado é fundamental para manter uma vida equilibrada e uma saúde mental estável. Agora, é com você!




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