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Como a ciência explica a criatividade?


Como surge uma ideia? Algumas pessoas são mais criativas que outras? Cientistas buscam respostas para explicar o processo criativo.


Por Vitória Isa Moura




A criatividade é uma das características humanas para as quais o homem ainda busca por respostas. No dicionário, sua definição remete a inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar e inovar.


Do ponto de vista científico, suas origens, especialmente em relação ao nosso cérebro, ainda intriga os pesquisadores. No entanto, sabe-se que a criatividade é extremamente importante para o desenvolvimento humano, à medida que permite melhorar nossa vida. Por exemplo, quando um engenheiro necessita solucionar um problema estrutural, ele precisa usar sua criatividade, da mesma forma que uma criança ao dar uma nova função para um objeto ou um médico ao buscar a cura para determinada doença.


Juliana Zellauy Feres, especialista em Neurociência e Comportamento, aponta que nos últimos anos, através de estudos que utilizaram exames de ressonância magnética funcional, descobriu-se que a habilidade criativa de um indivíduo está significativamente relacionada à força das suas conexões neurais.


"Em outras palavras, de acordo com o estudo de Roger Beaty, especialista em neurociência cognitiva da Universidade de Harvard, pessoas com conexões mais fortes, tiveram ideias mais criativas".

Publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a pesquisa liderada por Beaty estudou o comportamento das redes neurais de 163 pessoas, através de uma técnica que permite obter imagens cerebrais durante a realização de diferentes atividades.


É razoavelmente indiscutível a necessidade da criatividade em nossas vidas. Mas para que o cérebro possa desenvolvê-la, há um "ingrediente" essencial: a neuroplasticidade.

"Neuroplasticidade é a capacidade cerebral de se moldar, inclusive fisicamente, conforme as experiências vividas. Ela está no cerne do nosso processo de aprendizado e da nossa capacidade de nos adaptar às mais diversas situações e desafios. É extremamente importante para a criatividade pois nos permite aprimorar diversas habilidades, inclusive nossa capacidade criativa. Além disso, nos torna mais adaptáveis e resilientes, nos ajudando a encontrar soluções “fora da caixa” para lidar com a incerteza e a contínua mudança", explica Juliana.

Segundo a especialista, ao adentrarmos no processo criativo, ocorre uma ativação de três diferentes redes neurais de nosso cérebro: A rede de Modo Padrão (default mode network, em inglês), a rede de controle executivo e a rede de saliência.


"No processo criativo, a Rede de Modo Padrão é ativada quando o cérebro está gerando ideias ou simplesmente imaginando. Quando passamos para a tomada de decisões, daí então acionamos nossa Rede de Controle Executivo. E, finalmente, quando avaliamos quais ideias são relevantes, permitindo sua transição entre os modos padrão e executivo, usamos nossa Rede de Saliência. Essa terceira rede realiza uma função extremamente importante que é a de ser uma ponte entre nosso mecanismo de geração de ideias e a ponderação delas, nos ajudando assim a selecionar a que consideramos mais adequada para aquele determinado contexto".

O potencial criativo é inerente ao ser humano. No entanto, sua manifestação varia de pessoa para pessoa.


"Todos nós já nascemos criativos. Apenas precisamos fortalecer a criatividade que já nos é inata [...] Criatividade é a capacidade de criar, ser engenhoso, inventivo e de inovar. Em outras palavras, é tudo aquilo que se refere ao potencial de criação e acontece, essencialmente, por meio da conexão de diferentes conhecimentos e informações aparentemente desconectadas. Assim, pessoas criativas são aquelas que conseguem estabelecer essas relações baseadas em suas experiências de vida e trazer novas ideias para o mundo: seja uma nova receita culinária, um novo texto, uma música, uma nova brincadeira, e assim por diante".

Juliana ainda explica que, apesar de parecer contraditório, umas das principais chaves para se tornar cada vez mais produtivo é o descanso.


"Extremamente importante para o processo criativo, em termos neurocientíficos, o ócio criativo acontece quando nosso cérebro usa a nossa Rede de Modo Padrão, ou seja, quando não estamos ativamente usando nossa mente para nenhuma atividade específica. Ter momentos de relaxamento e “mente vazia” é fundamental para nossa criatividade já que, em geral, trata-se de um momento de “incubação”, quando as ideias são trabalhadas pelo nosso inconsciente, para posteriormente surgirem de forma espontânea, quando trazidas para o nosso consciente".

Mas engana-se quem acha que o ócio criativo se assemelha a preguiça, que em nada acrescenta.


"Ócio criativo não significa necessariamente não fazer nada, e sim, simplesmente não estar usando a mente de forma ativa para pensar. Assim, atividades como lavar a louça, caminhar, tomar banho, tocar um instrumento, nos ajudam a afastar a mente de determinado problema que buscamos uma solução, permitindo que a criatividade surja naturalmente".

Segundo a especialista, sabe-se que o físico Albert Einstein usava muito o método que nomeou de “jogo combinatório”, o qual podemos entender como a exploração de um canal mental para abrir outro. No caso de Einstein, ele tocava violino quando tinha dificuldades em solucionar um problema matemático e invariavelmente eram nesses momentos que as melhores soluções surgiam em sua mente.


Criatividade é liberdade?


Você já se perguntou porque crianças não têm limites para imaginar, criar ou descobrir coisas sem seguir orientações? A razão disso é a liberdade.


Juliana aponta que a raiz de toda criatividade é a liberdade. E quando nos “podamos” ou somos podados por alguém ou alguma circunstância, o processo criativo se torna ainda mais difícil.


“Para sermos criativos precisamos ter a liberdade de experimentar, o que naturalmente pressupõe a existência de erros e acertos. Ter essa liberdade nos possibilita expandirmos nossos horizontes, ampliar as possibilidades de respostas e então ter acesso a novas ideias para solucionar os desafios existentes”.

Durante o processo criativo buscamos algo que nos inspire. Por isso, perseguir a criatividade a todo custo surte o efeito oposto.


"É importante ter momentos de relaxamento e “mente vazia” que é, em geral, quando as ideias surgem espontaneamente. Além disso, durante o processo criativo, não ter medo de errar é fundamental. É necessário encarar o momento de criação não em termos de "acerto" ou "erro", mas de experimentação. Essa mudança de perspectiva muda tudo, fazendo com que o indivíduo se empenhe mais, se divirta mais e, com isso, vá mais longe, conquistando resultados melhores", afirma a especialista.

Além disso, Juliana ainda afirma que, um dos grandes desafios para desenvolver a criatividade trata-se do pensamento “rígido”. Pessoas perfeccionistas tendem a ter o processo criativo significativamente prejudicado, já que o perfeccionismo pode não apenas impedir que o indivíduo termine o seu trabalho, como muitas vezes o impede até mesmo de iniciá-lo por acreditar que sua capacidade está além da sua visão particular de “perfeição”, o que, por sua vez, nada mais é do que um ponto de vista específico, amplamente questionável e mutável conforme o contexto.


O que você tem feito para se envolver e se inspirar?


Juliana Zellauy afirma que o pensamento criativo não é uma exclusividade para poucos “sortudos”. É possível treinar o cérebro para ampliarmos nossas habilidades criativas, assim como fazemos com outras habilidades humanas, ou seja, por meio do fortalecimento da nossa conectividade neural através da repetição.


E para te ajudar a encontrar um caminho com estímulos e habilidades criativas, a especialista dá algumas dicas:


Desenhe, escreva, crie

Realizar atividades como exercitar a escrita criativa, a solução de problemas do dia a dia ou criar outras funções para determinados objetos nos ajuda a fortalecer essas redes, tornando o processo criativo mais fácil e natural.


Fuja da rotina

Outro ponto extremamente importante para fazer a criatividade florescer é fugir da rotina, buscando fontes e referências diferentes: podem ser leituras, pessoas, experiências, conversas e conhecimentos diversos, para ampliar as possibilidades de ter novas ideias.


Diversidade é a palavra de ordem

Pessoas que estão abertas ao novo, são geralmente mais curiosas, têm uma imaginação significativa e questionam até os fatos mais óbvios, possibilitando assim o desenvolvimento de novas formas de pensar.



Para estimular a criatividade:


O livro “A Grande Magia” da autora Elizabeth Gilbert, que explica de maneira muito poética e realista os desafios e alegrias do processo criativo;


“Roube como um artista”, escrito por Austin Kleon, que desconstrói de maneira leve e bem-humorada alguns mitos que nos impedem de sermos criativos;


“A Coragem de ser imperfeito” por Brené Brown, que apesar de não tratar diretamente sobre o processo criativo, trabalha uma questão fundamental para a liberdade criativa: a coragem de errar;


“Como o cérebro cria”, dos autores David Eagleman e Anthony Brandt. Seu documentário homônimo está disponível no Netflix.


Além desses, exclusivamente para os leitores da Entre Asanas, Juliana Zellauy oferece gratuitamente seu e-book “Desperte sua Criatividade”, bastando para tanto enviar um e-mail para o contato@simplesmenteseja.com.br.


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