A solidariedade está de volta!
Por Carlos Peixoto @capeixotob
Já estava sentindo a falta desse sentimento de solidariedade entre as pessoas. Essa semana presenciei, confesso que com os olhos rasos d’água, a uma ação humanitária aqui perto. Um grupo de jovens, capitaneados por uma adolescente de não mais de 15 anos empunhando um megafone, instava os moradores dos condomínios a doarem alimentos não perecíveis que seriam distribuídos na comunidade de Rio das Pedras.
Como eu, as pessoas desciam dos prédios com suas máscaras de proteção, trazendo sacos e bolsas de donativos, uns, meio constrangidos quem sabe pela falta de costume, outros, cheios daquela alegria de quem não perde uma oportunidade de doar. Como que estivessem sentindo falta desse gostinho bom que se sente lá dentro quando saímos de nós mesmos para fazer algo pelos que no momento precisam mais do que nós. Pois na verdade, ninguém sabe o dia de amanhã.
A sensação de alegria incontida era enorme, principalmente entre os mais jovens, até antes da pandemia absortos em suas bolhas, nos apartamentos, em frente a seus computadores, nas festinhas, nas lojas de conveniência, meio embriagados nos drinks e na insensibilidade, tentando disfarçar a desconcertante, silenciosa e ao mesmo tempo gritante presença do outro nos semáforos, nas esquinas, nos morros, nos pontos de venda de drogas.
É esse vírus de morte despertando a vontade de viver, de dar, de ser útil. Como disse Immanuel Kant, filósofo prussiano que viveu entre 1724 e 1804: “Entre todas as coisas magníficas da criação de Deus, duas deixam para trás as outras; uma está acima de nós - a imensidão dos céus estrelados; a outra dentro de nós - o espírito do homem”.
O que testemunhei foi para mim um grito de esperança em meio à desolação das pilhas de mortos e desassistidos. O grito era que a solidariedade está de volta. É o espírito de humanidade brotando das cinzas da insensibilidade em que vivíamos, talvez pela falsa noção de que nos bastavam a tecnologia e as facilidades do mundo moderno e seríamos felizes para sempre.
Pois o vírus, à espreita, brandindo sua afiada foice da morte, está fazendo reviver em nós a chama do amor ao próximo.
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Carlos Peixoto é empresário e vive na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro
Esse texto é um excelente exemplo do que o ser humano é capaz de realizar, quando tocado em seu coração. Na verdade nem seria necessário uma pandemia, mas somente um toque no coração, no espírito, na alma.
Obrigado, Felipe Daudt. Estamos vendo, pouco a pouco, a verdadeira face do Homo Sapiens se mostrando, entre sobressaltos.
Seguindo o texto do Peixoto acrescento: o espirito do homem ...entre brancas nuvens e brandas auras de céus tranquilos, palavras de Richard Wilheim.